terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Guerra


É travada na rua e na avenida
Uma guerra quase sem igual
Automóveis de gente bem-nascida
Contra toda essa gente do mal
Que metáfora tão brilhante
Da querida sociedade moderna
De um lado, a elite do volante
Do outro, o povão da baderna
Ao pobre-diabo do pedestre,
Reserva-se o direito de quieto ficar
Pedestre do diabo e pobre
Não basta na sua faixa andar?
Poesia engraçada e irônica
Tal qual sua estúpida publicidade
Aliás, estupidez é doença crônica
Dos grão-finos da cidade
Mas voltemos nossa atenção
Para tão particular e desigual luta
Atropelado e esmagado é o peão
Já tão cansado da labuta
(E antes mesmo de brilhar o amarelo no sinal)

Ademais, sobram problemas
Para o coitado do senhor burguês
Tem razão mesmo do trânsito reclamar
Ainda que na garagem tenha só três
Deus do céu, é muita injustiça
Meter tanto pau na bunda
De quem tanto trabalha e não rouba
Se o povão tivesse mesmo razão
Teria no lugar das pernas uma roda
Afinal, quem são eles para se encostarem
No cromado novo que mandei pintarem?
É melhor para vocês se situarem
O único motor a que tem o prazer de ver
É domingão na TV: Ferrari e Mclaren!

E resta ao povo, como se na TV olhassem,
Uma partida magistral de tênis:
Lá e cá, cá e lá, carros admirarem
Audis, mercêdis e beêmis!

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