sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Breakestra - Hit The Floor























Este pessoal de Los Angeles toca um Funk bem pesado com batidas bem próximas da velhíssima escola do Hip-Hop. Recomendo pra quem gosta e quem não gosta de Funk (o bom e velho).
Baixe aqui:

Naná Vasconcelos - Minha Lôa

"O samba é canção de guerra,
não foi feito só pra brincar
Pra ser feliz,
Inda não dá
enquanto um negro,
um só negro só,
Chorar (...)"

Voz Nagô










O maior achado dos últimos tempos para mim é Naná Vasconcelos. Em seu repertório pode-se achar um pouco de forró, maracatu (rural e de baque virado), côco, ciranda, samba, choro e uma pitada de música eletrônica, que não compromete em nada qualquer sonoridade orgânica. E ainda é o maior tocador de berimbau de Pernambuco, quiçá do Nordeste, transcedendo sua sonoridade.
Para quem quiser baixar, aqui está:

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Baião, Xote, Amor

Primeiro vem um pouco de baião. Os dois corpos apaixonados suam, se divertem, ensaiam passos, desejam-se no fundo descalços. A noite é mágica, escura, acentuada de mistérios inocentes e meias-luzes, as paredes carregam energia dos dançarinos, a cerveja a hora do descanso, da conversa, da amizade, do amor, do riso sem motivo, os assuntos os mais variados possíveis, os dois interessam-se por qualquer palavra expressa entre eles.
A noite é finita, mas em verdade poderia não qualquer noite, mas esta em especial nunca acabar, fazer-se travessa frente ao dia, bater no peito e dizer: "A Lua veio e quer ficar!". Astro dos poetas e dos enamorados, Lua dos sertões, das zabumbas, da mínima distância entre dois corpos, do suor misturado e compartilhado, Lua, dos vestidos que a fazem linda, radiante, como se o dia não precisasse mesmo chegar, afinal, ela dançando o forró junto do amor é o próprio dia, então a Lua há de ficar satisfeita, astro nosso, Lua crescente, abrindo um clarão no meio da noite só para simplesmente dizer que o Universo inteiro sorri para o casal dançante, para iluminar e faiscar de fachos o triângulo nas mãos do músico, para a zabumba marcar passos, ritmos, instrumento metafórico das batidas fortes dos dois corações, para a sanfona ecoar letras e juras de amor, para mandar a saudade pra lá, ó, bem longe, longe da vista da Lua, das estrelas, da noite maravilhosa, para os amantes de toda uma vida continuarem olhando firme olhos a olhos e pisarem, distraídos, nas estrelas gravadas no chão por um telhado furado qualquer. A resposta para uma noite finita é um amor infinito, uma dança dos corações felizmente interminável, para um xote economizar falas dos dois apaixonados e dizer um a outro o quanto a chama é forte, intensa, viva, brindes de copos tilintando e simbolizando o quanto o amor é maior que qualquer distância deste Universo e de outros, se existirem. O forró dançado bem juntinho justamente para ilustrar isso.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Trampos!


"Composição" - Cêra encaústica e pigmento s/ tela - 2.008


"Porto Equatorial - Têmpera s/ papel paraná - 2.007


"Composição Equatorial" - Acrílica s/ tela - 2.007


"O Rei-Pássaro" (esboço)


"Oxalufã" (esboço)

Leon Trotsky

"Ela virá. A Revolução conquistará para todos o direito não somente ao pão, mas à poesia."

domingo, 27 de julho de 2008

Empinando sonhos



A pipa lá no alto tem um quê de sonho
Pois há uma tênue linha, de costura ou destino
Entre parar e marchar - à frente, ao céu.

Há também na pipa uma tal de saudade
Ela distante, sujeita a todo tipo de ventos e brisas
Ainda assim, há uma linha que nos une.

A pipa carrega também uma criança
Sem peso, interior, agora livre, agora risonha
Cores mil, pulula por vezes sem controle

Que saudade tenho da criança no meu sonho
Que sonho tem a criança na sua saudade!
Que criança não tem saudade num sonho?

E toda vez que a pipa empinar
A criança sonhadora saudade terá.

A diferença é que existe uma linha.
A puxar, a unir, a mandar a saudade pra lá, bem longe
No azul distante.

Diálogo


"Códigos do Caos" - Xilogravura - 2.006


"Exu Laroiê! Saravá Sua Banda!"
Tinta têmpera-guache s/ papel
paraná - 2.007

...........................................................................................................................


Pris:
Conrado!
És querido!!

Esta achei a cara da arte que faz..

Eu
Augusto dos Anjos

E o índio, adstrito à étnica escória, tendo o horror no rosto impresso,
recebeu o achincalhe do progresso,
anulando-o da crítica da História!

De repente, acordando da desgraça,
viu toda a podridão de tua raça na tumba de Iracema!...

Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone, exercia sobre ele ação funesta.
Desde o desbravamento da floresta
à ultrajante invenção do telefone!


Conrado:
Muito boa Pris...

Ainda que não só o indígena, mas também o negro e sua cultura...

Não nego a cultura do homem branco, tem sim muitos aspectos ricos. A questão é igualar a esta cultura também as culturas dos oprimidos de nossa nação...um resgate, uma apropriação de modo a valorizá-las...ainda que eu não faça questão de deixar isso aparente, porque muitas pessoas não gostam de tanto conceito sócio-político-cultural em cima de um trampo artístico...


Pris:
Isso é, mas sinceramente, quanto à cultura do homem branco não concordo muito, com relação ao Brasil, até porque a existência da história foi toda esculpida pelas mãos dos negros, sem luva..., tenho certeza que a conversa aqui seria infinita se prolongássemos o assunto.Quanto à arte, a cara mesmo Conrado, é provocar saca, porque ela não está 100% em olhar o que se é agradável, em minha opinião a expressão que você expõe, remete a muita coisa, pode não haver intenção, mas existe uma riqueza grandiosa ao olhar, talvez o ‘outro’ não o perceba, porque é preciso ter sensibilidade o bastante para enxergar isso. O importante é fazer o que realmente gosta, quando se pode fazer, independente do que pensam. Reponde-me uma questão se sentir à vontade é claro, que me deixou em dúvida, até porque prefiro saber a resposta antes de criar conceitos: Você se importa mesmo como as pessoas vêem sua arte e faz só o que agrada os olhos?/Sem culpas quanto à pergunta e o mesmo digo com a resposta.
Satisfações em compartilhar idéia


Conrado:
Pris...

Como artista que sou, não posso deixar de pensar o lado estético da obra, pensar sobre sua composição, sobre seus elementos plásticos, et cetera..

Mas a tendência é a seguinte: artista não pode encher uma obra com cargas conceituais muito grandes...penso que isso a limitaria...

Minha ideologia ninguém tira de mim, mas nem sempre é bom sobrecarregar a arte com tais motivos...se eu seguisse 100% de minha ideologia na arte, eu seguiria uma escola do tipo Realismo Socialista...mas sem dúvida concordo que a arte deve provocar, deve ser crítica, não deve ter como parâmetro a própria arte.......isso seria o suicídio da arte e também o seu afastamento da vida. Portanto, penso que a arte pode e deve ser crítica, mas nem toda obra que um artista produz, sob a pena de tornar-se panfletária...

É preciso criticar sim, mas com inteligência...ainda assim, te mando no scrap um exemplo bem concreto de arte com caráter mais panfletário...que eu fiz..

Bjão..!




"Alvorecer da Revolução" - Plasticogravura - 2.006

sábado, 5 de julho de 2008

Meu Melhor Samba

Às vezes me afogo nestes loiros cabelos
Louros de vitória que me levam a segredos

Doce semblante, num instante
Percebi
Que sou doce viajante,
Agora não-pensante
Quando miro olhares
A ti

Minha arte surge do centro
da cidade, São João e Ipiranga
Minha arte surge do medo da altura
Da vertigem e da tontura
Que causas não o edifício a tu
Mas tu a mim

Percebeste?

Fim de semana no parque,
intervenção urbana à tarde,
samba que o coração arde,
professora que me ensina toda a arte

Arte de amar

Sem este samba a todos generalizar
digo que já possui um destino
O meu fabuloso destino,
Aquele em cujos loiros cabelos
Costumo me afogar
Não ligo para aqueles apelos
que dizem para parar
para mim,
mais ninguém existirá
neste mundo inteiro
para amar

Só a ti, meu melhor samba
Dediquei.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Interessante

Às vezes me pego olhando o céu sozinho, frio enregelando o que não se cobre do meu corpo, árvores com olhos - morcegos, araras e maritacas - e nuvens disputando uma espécie de corrida lá no firmamento. É minha hora do blues. A gaita faz muito bem nesta hora.

Sempre ando pelas conduções da cidade de São Paulo e, inevitavelmente, meu olho a tudo apreende. Todos os tipos humanos, sociais, carangas velhas e luxuosos sedans desfilam pelas ruas esburacadas e calçadas mais ainda. Para tantos contrastes, um belo jazz que vai do grave ao agudo em milésimos de segundo me satisfaz. Para uma trilha sonora do caos, saxofone, trompete, piano, trombone e além.

Quase sempre é a batida que me leva ao firmamento e faz o raciocínio transpirar e quebrar. É o ritmo e poesia, em inglês rythm and poetry, ou rap, que treina a rapidez da articulação de palavras, mexe o cerebelo e ainda por cima fala um pouquinho de filosofia e sociedade. E é um dos elementos da cultura Hip-Hop, que confidencio: não vai mudar o mundo inteiro, mas muda a forma como vemos o mundo. Ferramenta, não salvação. Hip-Hop não é Jesus Cristo, nem Buda, nem Abraão, nem faz milagres, mas acredito nele piamente.

Às vezes também o dia é ensolarado, ou nem isso, mas entro nas ondas do ska, do rocksteady e do reggae. Se o blues me leva ao firmamento, se o jazz me faz olhar para os lados e se o rap força-me a olhar para a frente, são as batidas de natalidade jamaicana que me fazem ver além, como uma quarta dimensão. Principalmente na música da Lança Flamejante, ou Burning Spear, ou outros homens e mulheres que resistem no Terceiro Mundo.

Quando o dia tá mais pra ginga, um balancinho, uma fala por vezes maliciosa e um amor (in) compreendido, o dia tá pra samba. E o samba é engraçado por que é, ao mesmo tempo, um ensinamento que vem de cima e vem debaixo também. De cima do morro e debaixo dessa porra de sociedade, mas pra mim tá valendo, e nem faço questão de pensar nisso. O importante é que poesia não se joga fora, tando doente do pé ou não. Malandragem dá um tempo.

Ruas da Minha Infância - 19/02/2006

Ruas da minha infância
que nunca tiveram infância
Já nasceram desvirginadas
Muito embora sejam tão herméticas!

Ruas da minha infância
viram milhares passando por vocês
Mas quem as rege, guarda, protege?
Droga, sou mais um anjo caído

Ruas da minha infância
imitando estreitas vielas d´Europa
No entanto tão simplórias
Fazem por merecer

Ruas da minha infância
que o Tempo se encarrega de enterrar
Não me julguem vingativo
Por que em vocês deixei de morar

Ruas da minha infância
guardem suas Marias, seus Joões
Num piscar de olhos não estão mais aí
Simpáticos olhares pelos portões

Ruas da minha infância
de sobradões acabados,
Nunca os esqueço
Nem dos velhões atrasados

Ruas da minha infância
batalhas campais da imaginação
Aeroportos de pipas e papagaios
Junho: base de chinesinhos!

Ruas da minha infância
cacos, farrapos, fiapos
Na insistência prendem-se à mim
Não faz mal: mais feliz sou assim.

terça-feira, 27 de maio de 2008

The Roots - The Tipping Point



T
He RooTS - THE TIPPING POINT

Sky's the limit so you know I'm gonna rise and shine
I gotta do my thing, I'm kinda getting a little tired of all that's hidden
That's the reason I'm a speak my mind, keep from going insane
Now work with it, we in the last innin'
The world keeps spinnin', my peoples steady losin' while the rich keep winnin'
It's like we neva smilin' and the devil steady grinnin'
killin' what we representin'
Even our children and women, 2K4, livin' above and under the law
Young teen joins the marines, says he'll die for the core
Inducted up into the goverment's war as if the land of money and oil
Funny how ain't none of it yours
I can't sleep yo I'm paranoid, it's code orange
It's far from right, I guess that's why it feels so wrong
To see the world get stripped out of every resource
And people pray to Coca-Cola now instead of the gods
What's goin' on?

Keepin' your head above water, hustlin' to survive
Some people chasin' a dream, others just chasin' a high
Some people blind leading the blind, they chasin' a lie
Some people chokin' backs broken barely makin' it by
But still they workin' all they live, they pushin' for the light
Givin' everything they got to stitch them swishes on ya Nike's
Puttin' pockets on our jeans, mining diamonds for them rings
Rewarded with small change and bullets in the brains
And it makes me feel strange everything we take for granted
At times I feel stranded on this planet of mine
Now should I pull the hammer, clap it out, and laugh about it
Or stand up, be counted while I cast my ballot
When the undertaker's busy and the prison's is crowded
People livin' in fear because they vision is clouded
But the sky's the limit, I ain't cryin' you a river
Gotta move me a mountain, I'm a git up and shout it

When I dream it's hounds on my heels gainin' momentum
I'm tired, can't get uninspired or quit runnin'
I can feel they only inches behind, I escape, I survive
Some how I gotta decide how much I want it
Or is anybody listenin' without a pot to piss in
If I disappear I wonder if the world will know I'm missin'
Who my support system, it's not the court system
Gotta letter it said that you're not avoiding prison
People 'neath the microscope 'cause we defining the culture
They smile and insult you like you shinin' their loafers
Them old heads say we need a modern day Moses
When the leaders is posers we needing some soldiers
It's the X generation, The anger is a nature
Got the writing on the wall so clear that I can taste it
Like a kid sniffing glue somewhere trying to escape
Cause we vulnerable and naked
Gotta show 'em we can make it.


1 - Star Pointro
http://www.zshare.net/audio/12672356e3ea3fb5/
2 - I Don't Carehttp://www.zshare.net/audio/12672592c09eaa7e/
3 - Don't Say Nuthin'
http://www.zshare.net/audio/12673040a57bc69e/
4 - Guns Are Drawn
http://www.zshare.net/audio/12673801ac5c2018/
5 - Stay Cool
http://www.zshare.net/audio/12674150b6180f7b/
6 - The Mic
http://www.zshare.net/audio/1267474600d8ac32/
7 - Web
http://www.zshare.net/audio/12674892503cf86f/

8 - Boom!
http://www.zshare.net/audio/12675087d3765ab2/
9 - Somebody's Gotta Do It
http://www.zshare.net/audio/126754439fbaa417/
10 - Duck Down!
http://www.zshare.net/audio/12675589451ecb21/
11 - Why (What's Going On)
http://www.zshare.net/audio/1267574759791b5d/



Faiz a festa. Agora é só baixar.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Justin Bua

Bua é o artista nova-iorquino nascido no Brooklin e que retrata um pouco das vísceras daquela cidade, tomando questões que são nomeadas pelo próprio como "musicologia".

Achei muito bom. Aqui vai o sáite oficial do cara: www.justinbua.com/


Alguns trampos:


"1981" - Óleo s/ tela.


"Midnight Solo" - Óleo s/ tela.


"Dj by Bua" - Óleo s/ tela.


"Jazz Minor in Red" - Óleo s/ tela.


"Saxophone" - Óleo s/ tela.


Ah, sim! E eu entendi finalmente os princípios da Física e da Mecânica Quântica!

Ogunhê!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

(re) visão

* Estou redescobrindo os sentimentos do coração, que achei que permaneceriam sepultados por um bom tempo; paguei com a língua, ótimo pra mim. Não daria para levar a vida do solteiro desregrado e carnal neste momento. Preciso de coisas mais sublimes;

* Mudei de casa. Depois de 6 anos e 6 meses voltei ao meu velho bairro, a Mooca (se bem que ali é Água Rasa). Tou numa casinha em cima da minha bisavó e nos fundos da casa da minha vó e meu tio. Apesar da loucura da mudança e de toda correria, tou feliz de voltar a um lugar onde ainda predominam as velhas relações de comunidade, coisa que talvez tenha me feito mais falta nesses 6 anos;

* Ainda assim, já me considero um cidadão sem lugar nenhum, coisa que aprendi a ser enquanto fiquei longe do lar; isso é bom, quando não há vínculos egoístas com um só lugar, vive-se em todos, apreendendo-se mais sem o velho filtro do bairrismo;

* Nunca deixei de acreditar em Deus, apesar de todo o ateísmo da minha instrução marxista. Só que Ele de dois anos para cá mudou de face: era velho, um tanto rígido e barbudo e hoje é um negro guerreiro, vindo dos antigos reinos da mamãe África;

* Além do que eu já gosto, musicalmente falando, estou estudando a fundo os afoxés baianos e pernambucanos, os breakbeats (principalmente os Funky Breaks) e os dubs e nyabinghis jamaicanos. Vejamos o que adquiri somente na última semana: Groundation (reggae roots), Asian Dub Foundation (Community e também Enemy of the Enemy, indefinível), The Roots (rap underground, exploraram muito os ritmos oldschool), Breakestra (funky break, o bagulho é BOM), Filó Machado (Jazz de Senzala), Del The Funky Homosapien (rap longe do mainstream), Parteum e Mzuri Sana (Bairros, Cidades, Estrelas, Constelações - os rappers mais filósofos que eu conheço), Berimbrown (ritmos brasileiros junto à pegada funk oldschool), New Mastersounds (102 % Funk - uma levada impressionante de percussão), toda a discografia do Kool and The Gang, Oxum Pandá (afoxé de Olinda em homenagem à orixá homônima), Cordel do Fogo Encantado (é sempre bom), Cabruêra (na mesma pegada "raízes nordestinas" do Cordel), Zion Train (raggamuffin-dub muito bom), Paulinho da Viola (Memórias Chorando, somente chorinhos do Paulinho), Xis (acho que todos devem conhecer - embora não seja só manos nem minas, pô e pá!), além de Gilberto Gil (Cidade do Salvador, de 73, e Parabaolicamará, de 92), Jorge Ben e mais Paulinho da Viola. De som não tô fraco não - e é óbvio - quem quiser é só pedir.

Por enquanto é isso que o tempo me permitiu escrever. Mas a fase é intensa, é agarrar ou largar, as chances são boas, a reestruturação inevitável, o amor é são e as flores perfumadas, e aquele velho Deus olhando nóis lá de cima com o Big Brother Pay per View 24 horas.


Ogunhê!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Terra Brasil



E para você, o que é o Brasil? O que é Brasil?

terça-feira, 29 de abril de 2008




E o índio, adstrito à étnica escória, tendo o horror no rosto impresso, recebeu o achincalhe do progresso,
anulando-o da crítica da história!

De repente, acordando da desgraça,
viu toda a podridão de sua raça na tumba de Iracema!...

Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone, exercia sobre ele ação funesta.

Desde o desbravamento da floresta
à ultrajante invenção do telefone!



Augusto dos Anjos

terça-feira, 22 de abril de 2008

Renovar é (sempre) preciso

Homem é homem porque renova
Fosse o contrário, era bicho,
Mordendo a velha isca do mesmo velho pescador

Sou homem, sou homem, porque renovei
Criarei novas estórias e histórias
De lealdade me farei

Não faço idéia do porquê meu nome ser tão especial
Mas o dono dele sou eu
E, quem sabe, por você viverei.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Samba para a Diomaíoch

Ingratidão tem a mesma sensação
Aqui, acolá, n'outro lado do mundão
Mudam só as palavras
Mas e aí, seu moço?
Onde fica o coração?

É tanto formalismo,
É tanta desconsideração,
Considere então, seu moço
Que o lado frio do mundo
Deixa o coração é mais insosso

Mas, com pesar há de dizer
Que sepulto tua ingratidão
Não tem distância, não tem retrato,
Não tem mais nada
Morreu o teu sorriso ingrato!

Seu moço, que sorriso ingrato
Considero um desacato
Ao meu coração

Seu moço, que sorriso ingrato
Considero um desacato
Ao meu coração.

terça-feira, 15 de abril de 2008


"Sem título" - Conrado Secassi Agarelli


"Eu não sei se a vida é que vai rápida demais ou se sou eu que estou mais lento. O que sei é que ando me atropelando nos próprios passos. Eu resolvi desacelerar. Eu vou no ritmo que posso.
Não é fácil. É sabedoria que requer aprendizado! Eu quero aprender. O descompasso é a causa de todo cansaço. O corpo é rápido, mas o coração não. O corpo anda no compasso da agenda. O coração anda é no compasso do amor miúdo. O corpo sobrevive de andares largos. O coração sobrevive de pequenos passos e de demoras. Eu já fui e voltei a inúmeros lugares e o coração nem saiu do lugar.

O mistério é saber reconciliar as partes. Conciliar um ritmo que seja bom para os dois.
Eu quero aprender. Não quero o martírio antes da hora. Quero é o direito de saborear o tempo como se fosse um menino que perdeu a pressa."

(Fábio de Melo)

sábado, 12 de abril de 2008

A Tarde




Pensem num homem de Neanderthal deixando sua morada rupestre e entrando na zona de caça.


Pensou? Óquei.


O período vespertino do meu dia é passado em termos geográficos na opulenta região da Avenida Brig. Faria Lima, um dos centros do capital na capital. O homem observador que agora vos escreve tentará humildemente relatar um pouco deste universo permeado de falsos sorrisos, de ternos mocassin, de carrocinhas, Ferraris, de camelôs e trânsito intenso; escala Richter 9.9 das discrepâncias que uma sociedade singular como a nossa pode oferecer.


É lógico e claro, meus camarás, que sendo isto um weblog, não me eximo de ser um pouquinho parcial. Só um pouquinho. Até porque o meu lado da guerra eu já escolhi há alguns bons anos. E não é o lado de cima da tabela.


Bons eram os tempos machadianos em que o vencedor ficava com as batatas, e ao perdedor, sobrava piedade e compaixão. Na São Paulo do século XXI, nem tais atitudes reservam-se mais aos perdedores. A eles, relega-se o canteiro central da Faria Lima. Aqui não funcionaria nem o Humanitismo de Quincas Borba e nem mesmo Humanismo. O que funciona aqui é o ato de vencer na vida, plagiando as revistas Exame e Você S/A - é óbvio que só existem vencedores quando alguém perde - e isso eu nem poderia plagiar em tais publicações, porque elas são voltadas ao público que não fica no canteiro central da avenida.


Como toda cultura, também a corporativa acumula símbolos que visam seu fortalecimento e a sua identificação (vide Jung). Quatro seguranças armados até os dentes e guarnecendo o Shopping Iguatemi são, sem dúvida, alguns destes símbolos. A Mercedes-Benz parada em cima do farol de pedestres quando o sinal está verde para estes também o é; assim como o rosto que figura as notas de dinheiro brasileiro, ridiculamente decorando e encimando os capitéis de um arranha-céu neoclássico. O mesmo rosto em relevo de pedra sorri cinicamente para os transeuntes que passam preocupados e sem um puto no bolso, além de bater em breguice o Reginaldo Rossi e o Wando juntos. Din-din é garantia de sorriso, mas os sorrisos não garantem o din-din. Ainda assim, o camelô na calçada sorri aquele sorriso lindo de gente negra, e não se dá por vencido, ainda que a labuta seja árdua e que fique em pé o dia inteiro - o seu banquinho é sempre emprestado à senhoras de mais idade e mulheres na espera do ônibus. Na marcha a pé ou na condução, vejo tais cenas e o pensamento é inevitável: algo está muito errado.


Mas para quem tem Deus como o seu maior guia as diferenças são naturais e não se pode lutar contra elas. Elas só diminuem através do trabalho, pesado e feroz. Pelo menos é o que diz o pregador suado, Bíblia em punho, quando se passa pelo Largo da Batata, ainda que o vencedor e suas batatas estejam muito longe dali. Aliás, nem tanto assim, são só vinte andares acima do chão, empoleirados em edifícios, mas o suficiente para que sua vida e a dos perdedores que estão em terra nunca se amarrem.





Continua...


quarta-feira, 2 de abril de 2008

A Manhã

Mais um dia de trabalho, no atolamento do meio da semana. Como sempre, tomo o ônibus visando chegar a Pinheiros. Muitas vezes, com atraso; outras, em situação confortável de tempo. Uso o aparelho de emepê-três emprestado de meu pai e recheado de artistas e grupos de meu feitio: B.B. King, Miles Davis, Jimmy Cliff, Parteum, Muddy Waters, Ray Charles, Black Alien, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, James Brown, músicas tradicionais nordestinas, toda uma farofada de blues, jazz, soul, funk, emepê-bê, reggae, raggamuffin, rap, entre outras coisas que passam à distância das Transaméricas, Jovem-Pans e Oitenta-e-Noves da vida afora.

Há muitos negros no busão, há mestiços, mulatos, sararás, cafuzos, brancos, uma farofada bem diversa, há os que vieram da Paraíba, Ceára, muitos provém da boa Bahia. No caso de outros, os olhos claros e os rostos de rapazes do interior denunciam: são migrantes do Sul, em especial, das zonas rurais do Rio Grande e de Santa Catarina - contratados a preço de banana para trabalhar em churrascarias paulistanas afim de "europeizá-las". Alguns são idosos, o rosto fragmentado, a vista cansada e opaca de tanta luta diária; existem as evangélicas, em que a grande maioria usa óculos - presumo que as Bíblias com letras minúsculas tenham lhes provocado o seu uso. Existem crianças, alguns são moleques que passam por baixo da catraca e vão esmolar em regiões mais centrais - estes parecem pirilampos com infinita energia - brincando como crianças devem brincar, com a diferença de que estão dentro da condução. Não se inibem. Tem cara de galeguinhos, talvez frutos de algum patrão que transgrediu a dignidade de sua empregada doméstica. Outras crianças usam calções de futebol e chuteiras bem velhas e gastas, e conversam alto e riem muito, magros de dar dó, mas todos os dias vão à escolinha do São Caetano para buscar um futuro dentro dos gramados. Poucos conseguirão; outros continuarão andando de busão, mesmo velhos.

Há o rapaz que anda sempre de preto e usa uma corrente de prata falsa com a efígie de São Jorge perfurando o dragão; existem as moças que ficam incomodadas por tanto desejo da massa masculina - estranho, porque possuem tatuagens nos seios e parecem nem usar calcinhas, de minúsculas que são; vez por outra, roubam a cena os vendedores, embora os produtos não sejam tão variados como nos trens: quase sempre balas e chocolates, e interessante, nenhum doce causa cárie nos dentes, sempre aprovados por alguma associação imaginária de odontologia. Certas vezes, o motorista atende a pedidos de passageiros e negocia com os meninos dos jornais gratuitos "Metro" e "Destak" para que forneçam 50 unidades. E o busão prossegue o itinerário, sempre com percalços: se não quiser trânsito, ande de ônibus nos 10 primeiros dias do ano. Ele só parará nos sinais.





Continua...

quarta-feira, 26 de março de 2008

São Paulo: Uma cidade limpa. Dos pobres.


O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na ocasião em que chamou
um aposentado reclamando seus direitos de vagabundo.

Na Cidade de São Paulo 1,6 milhão de pessoas moram em loteamentos irregulares; 2 milhões em favelas; 600 mil em cortiços e 13 mil nas ruas. O município, através da Lei 13.340 de 13.09.2002, aprovou seu Plano Diretor, dispondo de inúmeras regras de combate à especulação imobiliária e de ordenação do crescimento planejado de nossa metrópole, criando a ZEIS (Zonas Especiais de Habitação de Interesse Social). Não obstante o acarbouço jurídico extremamente avançado do ponto de vista urbanístico, assistimos na Cidade de São Paulo uma dicotomia. De um lado vivenciamos um enorme volume de investimentos e conseqüentemente um boom de expansão imobiliária nunca antes visto na história de São Paulo – com lançamentos imobiliários de luxo (uma unidade custa até 5 R$ milhões de reais), recursos suficiente para construir 125 casas populares.

Por outro lado um em cada seis paulistanos vive em favelas – demonstrando que nem mercado nem governos conseguem diminuir o absurdo déficit habitacional paulistano, tampouco resolver a questão fundiária e dotá-los de infra-estrutura básica (água, esgoto, iluminação e equipamentos públicos) os conjuntos habitacionais, favelas e loteamentos – impossíveis de serem removidos ante a realidade social. Enquanto a população de baixa renda sobrevive em condições precárias de habitabilidade, o setor privado e o poder público investem bilhões de reais no mercado imobiliário, beneficiando tão somente as corporações capitalistas do setor. O problema não é de legislação e sim de opção política, pois a nossa Constituição, o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor são referências mundiais de marco jurídico para a justa distribuição da terra e regularização fundiária urbana.

O prefeito Kassab tem adotado uma política sistemática de gentrificação (processo de substituição da população mais pobre pela de mais alta renda em determinadas regiões da cidade). O projeto cracolândia, as constantes remoções de favelas e de cortiços, fechamento de sedes de entidades sociais, repressão contra os ambulantes e os despejos violentos de áreas localizadas em torno das regiões nobres são exemplos da peserguição implacável contra os pobres da cidade. O programa “Cidade Limpa”, que, aparentemente é destinado para acabar com a poluição visual em nossa cidade, acoberta, na verdade, uma política “higienista”, chefiada pelo secretário das Subprefeituras, o tucano Andréa Matarazzo e o também tucano Floriano Pesaro, Secretário de Assistência e Desenvolvimento Social. O propósito é “varrer toda sujeira” da cidade – situação comparável somente com a chamada reforma urbanística e de saneamento ocorrida no início do século passado na Cidade do Rio de Janeiro, quando o comércio ambulante foi proibido, moradores expulsos de suas casas e vacinação da população supostamente atingida com epidemias.

A sociedade civil não pode ficar inerte diante dessa política de higienização – que valoriza o capital imobiliário em detrimento do massacre e exclusão de milhares de pessoas. É necessária uma reação para denunciar e barrar essa política de cidade limpa, dos pobres.

Raimundo Bonfim é advogado e Coordenador-geral da CMP (Central de Movimentos Populares) do Estado de São Paulo.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paixão

Agora não quero nem saber, tinha que manter uma imparcialidade do blog e tal, mas agora vou deixar toda a sorte de outros temas de lado e dizer que merecemos ser de fato campeões! Quanto o time é de fibra, de guerreiros, sempre vai merecer...!

E é por isso que escolhi a Sociedade Esportiva Palmeiras como o clube do meu coração. Porque é um time de guerreiros.











Combinações




Bairro do Brás. São Paulo.






1. Na virada do décimo-nono para o vigésimo século da Era Cristã, viviam mal - aquela gente das províncias mais ao sul do Vecchio Paese, a Itália. Lavradores miseráveis, mas de certa forma letrados, tocados pela utopia anarquista. Tiveram que fugir em questão da noite para o dia - a pena para o crime de professar sua liberdade política era a morte. E corre para o porto internacional mais próximo, porque a cavalaria do rei vem aí. E vem pra fuzilar aqueles que queriam fuzilar o rei. É a lei de talião, olho por olho e dente por dente. Destino: Brasil.


2. Mesma época, mesmos problemas, é em Treviso, norte da Itália, que os descendentes de algum Francesco, como delatam seus sobrenomes, Secco e Secassi, decidem também dar um basta em tanta miséria e rumar para um novo horizonte em Novo Horizonte, cidade caipira do Estado de São Paulo. Fugiram também, mas fugiram por aquilo que não escolheram: nascer num berço de pobreza.

3. E dos Pireneus, cadeia de montanhas que separam França e Espanha, surge um tal sujeitinho de nome Jean-Baptiste Lafont, que decide tentar a sorte do outro lado das montanhas e conhece a espanhola Maria Sanchéz, com quem veio a amar e casar. Torna-se cidadão ibérico. No meio de uma confusão histórica, presumo que tenha tentado a carreira no exército de Su Majestad e parte para a luta contra os ianques norte-americanos em Cuba, colônia espanhola. A Espanha sai derrotada e Cuba, independente mas dependente e explorada por seus colegas norte-americanos. Numa das pelejas, seu batalhão é estraçalhado e ele resolve fingir-se de morto. Os americanos que passavam queriam comprovar a morte de todos os espanhóis e botavam-se a enfiar as adagas de suas carabinas em todos os pescoços que encontravam. Jean sobreviveu a isso, mas muitos anos mais tarde, já no Brasil, veio a falecer de um câncer surgido em sua traquéia. Assassinado a longo-prazo.

4. E é no interior da Bahia, Brasil, que encontramos outros personagens, gente que tinha lusitanos e sertanejos por ascendentes. Decidiram eles largar aquela terra que nada dava e que vivia seca a maior parte do ano, terra de cangaços e Antônios Conselheiros, terra de velhas histórias da noite e do luar do sertão, encruzilhada de caixeiros-viajantes e soldados da polícia em caça à Lampiões e Virgulinos. Rumaram pelas próprias pernas, segundo ouvi, para o sul das Minas Gerais. Foi em Arceburgo, sul de Minas, que Nídia Anacleto, a baiana, conheceu Hugo Pessuti, o mineiro. São os falecidos pais de meu avô. E segundo meu avô, Arceburgo tem por peculiaridade nunca mudar o seu número de habitantes - toda vez que nasce uma criança, foge um rapaz.

O resultado de tão antigas combinações é este que vos escreve. Com sangue italiano, francês, espanhol, português, brasileiro e baiano, quiçá indígena, filho dos bairros operários da Mooca e Brás e dos subúrbios provincianos da Vila Prudente, lugar onde os filhos e netos de todos aqueles ilustres personagens (pelo menos para mim) conheceram-se e procriaram-se.

Eu.









domingo, 16 de março de 2008

Situação

Quando o salário é mal, o amor é escasso e o encalhe um fato, resta a consolação da arte.
A paixão mais duradoura e sincera.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lar

Há muito saí de meu berço de velhos tijolos
Terra Mater de minha existência conceitual
O maior celeiro de índios da extinta Vera Cruz
Por tempos, nação das muralhas de operários e seca fumaça
A paradoxal província dentro do centro
Meu velho lugar, zê-éle, Formosa é a vila
Saudosa maloca
Ainda vive sem mim, Mooca
E nesse reclamar insistente,
Ainda vive também, ó Vila Prudente
Como se tivesse enterrado um tesouro de piratas
Desde que as deixei, estão ainda iguais;

Em exílio, aprendi e apreendi de fato o mundo
E dele comecei a fazer parte
As longitudes e latitudes da minha mente aumentaram
Virei homem, sujeito-homem, H.Aço
Cabra-homem, bicho grilo, bicho solto
Hoje sou diferente
Portanto,
Homem sensível coberto de sedimentos do mundo
Que ventou em mim, na primeira vez que encontrei-o
Na primeira vez que me vi sem lugar
Sem identidade geográfica
Perdido, órfão de meu universo pessoal
Mas, renovar é preciso

E, sabe o exilado que depois de muito tempo volta ao seu país,
e sente que não mais pertence àquele lugar?
Pois é.



segunda-feira, 3 de março de 2008

O que acontece em Gaza?




http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Parabolicamará




Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande

Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, dentro de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa

Pra aprumar o balaio

Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça

Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia, Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará

"O refrão "Ê, volta do mundo, camará", eu sampleei também de um verso muito comum em qualquer roda de capoeira. É uma maneira de cantar a vastidão do mundo, que também carrega a certeza de que o mundo vai e volta, e que na próxima volta – na volta também coreografada pela dança-luta – quem hoje perde pode se tornar o vencedor. Tudo muda, o tempo todo. E só quem sabe entender a mudança pode conquistar a vitória, ou melhor, vitórias, sempre parciais."

E pra quem quiser escutar, tá aí. É só baixar:

Gilberto Gil - Parabolicamará

http://www.zshare.net/download/8414909976a43d/

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Em dia.




Tudo haveria de ser diferente, mas certas coisas e pessoas não tem força suficiente para passar de um mero futuro do pretérito. E apesar de supostamente não me dizer respeito, porque já não há mais elo, digo que fico puto. Porque comportar-se de tal forma? Há imaturidade mesmo naqueles(as) que possuem mais "responsa" e "racionalidade".

Se há um sujeito que possa personificar calma e paciência nesse mundo, tal sujeito sou eu. A parte impulsiva e explosiva, digna do meu elo com o meu arquétipo mais vibrante e com o "sobrenatural", fica quieta, e já é pentacampeã mundial de pagação de sapo. Há estopim para tudo. Palavras mal-ditas são comparavelmente iguais ao fogo no rastilho da pólvora. Talvez pessoas ingratas também. E egoístas, e dignas de uma pedra rolante do Bob Dylan, porque julgam que seu mundo é independente do elo que mantém com irmãos da mesma espécie humana e estúpida, humanos burros que tocam na mesma tecla e no mesmo coração, humanos que insistem em humanidade num mundo tão artificial, insensato, cinza e ao mesmo tempo publicitário, vazio e sem sentimento. É só profissionalismo maquinal, é só a busca do eterno crescer na vida sem resposta, é só desrespeito com sentimentos de outrem e terceiros. A tua viagem, viagem sem fim, não há pote de ouro no fim.

Artistas tem um filtro especial de palavras. Sabem muito bem quando devem e quando não devem ser ditas. Ora, no princípio era o Verbo, e Ele deu origem a tudo. Só que o Verbo, a palavra, a idéia é vazia quando desprovida de ação e atitude. E já tinham me avisado que só se ama muito quem se mostra disposto. Fora isso, é fonética vã e vaga, é pura onda sonora viajando no ar.

Bom, se este pequeno texto soa um tanto poético demais, pois tanto melhor. A questão é simples e diz que ingratidão é punida com ignorância e desamor é punido com distância. O melhor remédio.

Viva bem.

Outras merecerão mais a pessoa que perdeste.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Salve Comandante! - Sérgio Vaz


"Em vez de nos agredirem como nos agridem, por que é que não fazem simplesmente uma pergunta: como é possível que Cuba em 30 anos tenha feito o que a América-Latina não fez em 200 anos? ", Fidel Castro


"Cuba me lembra as periferias do Brasil, pelo menos na questão do embargo econômico, parece que todos estão proibidos de levar benfeitorias para as quebradas. Só que aqui que eles fazem isso sem pressão alguma. Viva a democracia!
Sou contra qualquer ditadura, qualquer uma, tanto de direita quanto de esquerda, que fique bem claro isso. E também sou contra qualquer Democradura, tipo Estadunidense ou Brasileira, na qual você pode falar tudo que quiser, desde de que ninguém te escute.
Tenho asco a esse nosso direito de ir e vir, desde que a gente saiba onde a gente está pisando. Tenho raiva desse nosso direito de andar livremente pelos esgôtos a céu aberto, de ruas sem asfaltos e mergulhar nas águas profundas das enchentes nos dias de chuva.
Não quero e não aceito esse direito de optar a estudar e não estudar ou ser analfabeto contra a minha vontade, e ter a obrigação a votar em raposas democráticas e velhacas que assombram o galinheiro.
"Somos um povo alegre", me diz a TV. Mas aí quando eu olho, a gente não se vê.
Veja os jornais por exemplo: estão cheios de liberdade de expressão, desde que escrevam as manchetes do patrão. Não é bacana?
Ufa!, ainda bem que aqui não tem paredão, só chacinas -não sei se o nosso povo lindo e trigueiro aceitaria ver pessoas morrerem injustamente. Para quem não sabe, no Brasil, a gente dá muito valor à vida. Sei.
Dizem que lá o povo todo vive na miséria e que eles nem têm carros novos.
Aqui não. Aqui, só nós somos os miseráveis, los otros...
Lá dizem que lá o povo é triste e não tem batucada, já aqui, eles, usam a nossa pele como tamborim, e sambam o ano inteiro sobre nossa carcaça.
Acho que o regime ideal seria aquele em que uma pessoa estivesse comendo alguma coisa e a outra não estivesse esperando para lamber a sua mão.
Aquele em que a gente tivesse a nossa casa e as outras não fossem inquilinos da rua.
Regime ideal é aquele onde o povo não é anoréxico, e que não tem vergonha de comer o fígado dos traidores da nação.
Regime ideal é aquele que o povo come os livros e não coloca o dedo na garganta, mas na cara do inimigo, e depois, vomita na cara da injustiça.
Nesse mundo repleto de bunda-moles, Fidel vai fazer muita falta.
Valeu hermano!"

Por Sérgio Vaz
(http://colecionadordepedras.blogspot.com)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Fé em São Jorge Preto




Por Gabriel Rocha Gaspar

Jorge Ben pintou em 1963 com seu esquema novo de fazer samba, que tirava a bossa nova da sala e atacava na cozinha, de aventalzinho e tudo. O som era mistura de samba de morro com samba branco de classe média, apaixonado pelo jazz e pelos standards americanos, mas também pelo terreiro, pelo beco, pela cachaça. Ben surgiu como cara preta da bossa nova, brasileira, declarada e ostensiva, sem renegar a contribuição musical dos brancos brasileiros e dos afro-americanos.

Caetano Veloso confessa em seu “Verdade Tropical”: “sua agressividade alegre e sua musicalidade deixando à mostra traços crus de samba de morro e blues numa composição de exterioridades nordestinas eram a encarnação de nossos sonhos. Parecia-me que minha ‘Tropicália’ era mera teoria, em comparação”. Ben era mais realista que o rei – ou mais tropicalista que o tropicalismo – no ímpeto pela mistura. Pode até ser coincidência, mas isso tudo combina tanto com o nome Jorge...

Isso porque São Jorge é – com licença, Caetano – a mais completa tradução do sincretismo religioso no Brasil. Seja o guerreiro palestino do século III ou o ferreiro africano casado com Oiá-Iansã, sabemos que, por aqui, ele protege os guerreiros e os pobres; é senhor do fogo, das armas, das facas, lanças e espadas. Santo guerreiro cuja imagem é tão indispensável quanto a roupa do corpo; santo escudo, sério, forte e agressivo, para ser evocado só quando caminhamos pelo vale da morte.

“Jorge de Capadócia” é tudo isso, em palavra, som e poder – seja na voz do próprio compositor ou dos Racionais MC’s. Faltou falar da gravação de Fernanda Abreu com Carlinhos Brown; faltou a do próprio Caetano também, não é? Só para constar, lá vai, em poucas linhas: a primeira faz uma colagem, tenta colocar funk, black, terreiro, bossa-nova e dance dentro da mesma coisa. Soa, no mínimo, desconexo. A gravação do Caetano é, como o nome do disco em que ela aparece anuncia, “qualquer coisa” – o arranjo inteiro prepara terreno para uma apoteose do próprio Caetano, no agudo do agudo do “salve Jorge!”. Meio over...

Solta o pavão
A gravação original foi lançada em 1975, no disco “Solta o Pavão”, penúltimo antes da migração definitiva de Ben para a guitarra. Tudo começa com o clássico violão suingado, acompanhado de João Zim no agogô, batendo tempo e contratempo. A batida surda do bumbo apresenta as vozes de Ben e do Coral do Kojak, entoando “Jorge... de Capadócia”. O estilo do canto evoca o gospel dos negros americanos – principalmente porque Ben aproveita os espaços entre as vozes do coral, com frases como “salve Jorge! Viva Jorge!”, tal qual um pastor. A marcação forte sugere palmas. Depois do último “Jorge...”, a levada da música muda bruscamente.

Entra um teclado em mi menor que não soa triste, mas denso e pesado. Parece música de filme de guerra, sinistra. Principalmente quando entra o arpstrings, que imita o som dos violinos e coros de uma orquestra. Jorge Ben entoa a oração a São Jorge Mártir: “Jorge sentou praça na cavalaria...”. As várias percussões, em primeiro plano, sugerem um terreiro – não pelo tipo de toque, que é de parada militar (pra-cum-dum), constante, mas pelo som seco do atabaque, indissociável das tradições negras, da capoeira e do candomblé.

É sincretismo para todos os lados. A oração é a mesma do santo cristão, mas os instrumentos são africanos; o som do arpstrings remete tanto à música clássica quanto ao gospel americano. E tudo soa improvisado, como boa parte da música de Ben até o final dos anos 70. Parece que saiu ali, na hora. Improviso não é novidade em se tratando de Jorge Ben, mas, aqui, tem algo de novo: o violão é constante, invariável. A virtuose está na voz do mestre, que se distancia léguas da bossa-nova, beirando o berro e a desafinação.

É isso que quebra o tom solene da gravação – no meio da reza pintam uns “sensacional!”, “maravilha!”, “em cima!”. É aquele canto de pergunta e resposta, característico da música negra no mundo inteiro. Está na obra de gente tão diversa quanto Fela Kuti, Bob Marley, Salif Keita, Ladysmith Black Mambazo, Aretha Franklin, Olodum, no samba de breque, no R&B dos 50, 60 e 70, enfim... É som de igreja, coletivo, canto escravo e tribal. É uma espécie de animação, transformando a tristeza de cada um em um desabafo de todo mundo, que puxa para a dança e as palmas. Se tem, não sei, mas garanto que é difícil localizar essa “terapia coletiva” na música de origem européia. O canto coletivo europeu parece tender mais para o hino e para o louvor.

Jorge africano
Por isso, “Jorge de Capadócia” soa tão profundamente arraigada na religiosidade e espiritualidade negras, apesar de glorificar um santo “importado” dos brancos. Extrapolando um pouquinho a letra da música, poderia dizer que este Jorge nascido na cidade de Capadócia é, na verdade, o Ogum natural de Ifé, seu correspondente no candomblé carioca e paulista. Ogum é guerreiro, senhor das armas (“...se quebrem sem o meu corpo tocar”), evocado nas batalhas quando o inimigo é forte e poderoso (“para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem!”).

O fotógrafo e pesquisador Pierre Fatumbi Verger conta em seu livro “Orixás”, que Ogum voltou a Irê depois de muitos anos para visitar seu filho, rei daquela cidade. “Infelizmente, as pessoas da cidade celebravam, no dia de sua chegada, uma cerimônia em que os participantes não podiam falar sob nenhum pretexto. Ogum tinha fome e sede; viu vários potes de vinho de palma, mas ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter ficado ausente por muito tempo. Ogum, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, por ele considerado ofensivo. Começou a quebrar com golpes de sabre os potes e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeças das pessoas mais próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe suas comidas prediletas, como cães e caramujos, feijão regado com azeite de dendê e potes de vinho de palma. Enquanto saciava sua fome e sua sede, os habitantes de Irê cantavam louvores onde não faltava a menção a Ògúnjajá, que vem da frase Ògún je aja (“Ogum come cachorro”), o que lhe valeu o nome de Ògúnjá. Satisfeito e acalmado, Ogum lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra adentro com uma barulheira assustadora. Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras. A essas palavras, ditas durante uma batalha, Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o evocou. Porém elas não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, se não encontra inimigos diante de si, é sobre o imprudente que Ogum se lançará”.

Em uma discussão, tomar Ogum por testemunha, tocando a lâmina de uma faca com a ponta da língua, é sinal de sinceridade absoluta. Coisa séria. Racionais MC’s bem sabem disso.

Ogunhê!
“Ogunhê!” é a saudação a Ogum, quando ele baixa. “Ogunhê!” é como começa o que talvez seja o disco mais incisivo dos Racionais MC’s, “Sobrevivendo no Inferno”. O álbum os alçou definitivamente ao estrelato, com faixas como “Diário de um Detento”, “Capitulo 4, Versículo 3”, “Em Qual Mentira Vou Acreditar” e vários outros, digamos assim, sucessos. Esse “digamos assim” é proposital. Porque, quem é louco de evocar o poder de Ogum para fazer sucesso?

A chamada de Ice Blue mostra duas coisas: que o disco vem preparado para a guerra; e que Racionais confiam que o santo está do seu lado. O chamado substitui o gospel de Ben na introdução, mas o gospel está em cada segundo da música escolhida por Kl Jay para fazer a base. “Ike’s rap II”, de Isaac Hayes não é exatamente uma música cristã – apesar de integrar o álbum que leva o incisivo nome de “Black Moses” – e ele próprio está bem longe de ser um bom samaritano. Sua fama de proto-rapper gringo deriva não só de seu talento em recitar poesias sobre bases de funk e soul, mas de seu trato explícito com as mulheres e da exibição ostensiva de seu patrimônio.

Mas Hayes foi um garoto pobre de Covington, no Tennessee. Passou fome, catou algodão nos campos do sul – o que suscita em qualquer negrão a memória ancestral da chibata – e cantou na Igreja desde os cinco anos de idade. A música coletiva negra, o gospel em especial, é poderosa em exorcizar males pelo desabafo e pela universalização. O gospel é algo embutido na própria religiosidade do negro. Ultrapassa as fronteiras da religião em si.

Pode estar aí a relação entre a escolha da base e a alma gospel. Apesar do vocal que tende ao soul, da batida típica do rap americano e do solo chorado de guitarra, tão bluesy, essa é a gravação que melhor dialoga com a original – considerando as desconsideradas de Caetano e Fernanda e Carlinhos Brown –, mesmo sem percussão nem violão. Isso porque a evocação de Ogum é como um grito de largada para a improvisação vocal que guia a música inteira, desembocando em um “salve Jorge” melancólico, contrastante com o de Caetano. “Ogunhê!” soa aqui como um lastro de confiança na luta: a certeza de que a palavra mágica voltará o santo contra os inimigos.

Passada a prece, feita com solenidade e devoção, tanto a São Jorge quanto a Ogum, a música sofre um corte abrupto e Mano Brown joga na mesa as suas cartas: uma Bíblia velha e uma pistola automática. Aqui, as armas de Jorge.