quarta-feira, 26 de março de 2008

São Paulo: Uma cidade limpa. Dos pobres.


O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na ocasião em que chamou
um aposentado reclamando seus direitos de vagabundo.

Na Cidade de São Paulo 1,6 milhão de pessoas moram em loteamentos irregulares; 2 milhões em favelas; 600 mil em cortiços e 13 mil nas ruas. O município, através da Lei 13.340 de 13.09.2002, aprovou seu Plano Diretor, dispondo de inúmeras regras de combate à especulação imobiliária e de ordenação do crescimento planejado de nossa metrópole, criando a ZEIS (Zonas Especiais de Habitação de Interesse Social). Não obstante o acarbouço jurídico extremamente avançado do ponto de vista urbanístico, assistimos na Cidade de São Paulo uma dicotomia. De um lado vivenciamos um enorme volume de investimentos e conseqüentemente um boom de expansão imobiliária nunca antes visto na história de São Paulo – com lançamentos imobiliários de luxo (uma unidade custa até 5 R$ milhões de reais), recursos suficiente para construir 125 casas populares.

Por outro lado um em cada seis paulistanos vive em favelas – demonstrando que nem mercado nem governos conseguem diminuir o absurdo déficit habitacional paulistano, tampouco resolver a questão fundiária e dotá-los de infra-estrutura básica (água, esgoto, iluminação e equipamentos públicos) os conjuntos habitacionais, favelas e loteamentos – impossíveis de serem removidos ante a realidade social. Enquanto a população de baixa renda sobrevive em condições precárias de habitabilidade, o setor privado e o poder público investem bilhões de reais no mercado imobiliário, beneficiando tão somente as corporações capitalistas do setor. O problema não é de legislação e sim de opção política, pois a nossa Constituição, o Estatuto da Cidade e o Plano Diretor são referências mundiais de marco jurídico para a justa distribuição da terra e regularização fundiária urbana.

O prefeito Kassab tem adotado uma política sistemática de gentrificação (processo de substituição da população mais pobre pela de mais alta renda em determinadas regiões da cidade). O projeto cracolândia, as constantes remoções de favelas e de cortiços, fechamento de sedes de entidades sociais, repressão contra os ambulantes e os despejos violentos de áreas localizadas em torno das regiões nobres são exemplos da peserguição implacável contra os pobres da cidade. O programa “Cidade Limpa”, que, aparentemente é destinado para acabar com a poluição visual em nossa cidade, acoberta, na verdade, uma política “higienista”, chefiada pelo secretário das Subprefeituras, o tucano Andréa Matarazzo e o também tucano Floriano Pesaro, Secretário de Assistência e Desenvolvimento Social. O propósito é “varrer toda sujeira” da cidade – situação comparável somente com a chamada reforma urbanística e de saneamento ocorrida no início do século passado na Cidade do Rio de Janeiro, quando o comércio ambulante foi proibido, moradores expulsos de suas casas e vacinação da população supostamente atingida com epidemias.

A sociedade civil não pode ficar inerte diante dessa política de higienização – que valoriza o capital imobiliário em detrimento do massacre e exclusão de milhares de pessoas. É necessária uma reação para denunciar e barrar essa política de cidade limpa, dos pobres.

Raimundo Bonfim é advogado e Coordenador-geral da CMP (Central de Movimentos Populares) do Estado de São Paulo.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Paixão

Agora não quero nem saber, tinha que manter uma imparcialidade do blog e tal, mas agora vou deixar toda a sorte de outros temas de lado e dizer que merecemos ser de fato campeões! Quanto o time é de fibra, de guerreiros, sempre vai merecer...!

E é por isso que escolhi a Sociedade Esportiva Palmeiras como o clube do meu coração. Porque é um time de guerreiros.











Combinações




Bairro do Brás. São Paulo.






1. Na virada do décimo-nono para o vigésimo século da Era Cristã, viviam mal - aquela gente das províncias mais ao sul do Vecchio Paese, a Itália. Lavradores miseráveis, mas de certa forma letrados, tocados pela utopia anarquista. Tiveram que fugir em questão da noite para o dia - a pena para o crime de professar sua liberdade política era a morte. E corre para o porto internacional mais próximo, porque a cavalaria do rei vem aí. E vem pra fuzilar aqueles que queriam fuzilar o rei. É a lei de talião, olho por olho e dente por dente. Destino: Brasil.


2. Mesma época, mesmos problemas, é em Treviso, norte da Itália, que os descendentes de algum Francesco, como delatam seus sobrenomes, Secco e Secassi, decidem também dar um basta em tanta miséria e rumar para um novo horizonte em Novo Horizonte, cidade caipira do Estado de São Paulo. Fugiram também, mas fugiram por aquilo que não escolheram: nascer num berço de pobreza.

3. E dos Pireneus, cadeia de montanhas que separam França e Espanha, surge um tal sujeitinho de nome Jean-Baptiste Lafont, que decide tentar a sorte do outro lado das montanhas e conhece a espanhola Maria Sanchéz, com quem veio a amar e casar. Torna-se cidadão ibérico. No meio de uma confusão histórica, presumo que tenha tentado a carreira no exército de Su Majestad e parte para a luta contra os ianques norte-americanos em Cuba, colônia espanhola. A Espanha sai derrotada e Cuba, independente mas dependente e explorada por seus colegas norte-americanos. Numa das pelejas, seu batalhão é estraçalhado e ele resolve fingir-se de morto. Os americanos que passavam queriam comprovar a morte de todos os espanhóis e botavam-se a enfiar as adagas de suas carabinas em todos os pescoços que encontravam. Jean sobreviveu a isso, mas muitos anos mais tarde, já no Brasil, veio a falecer de um câncer surgido em sua traquéia. Assassinado a longo-prazo.

4. E é no interior da Bahia, Brasil, que encontramos outros personagens, gente que tinha lusitanos e sertanejos por ascendentes. Decidiram eles largar aquela terra que nada dava e que vivia seca a maior parte do ano, terra de cangaços e Antônios Conselheiros, terra de velhas histórias da noite e do luar do sertão, encruzilhada de caixeiros-viajantes e soldados da polícia em caça à Lampiões e Virgulinos. Rumaram pelas próprias pernas, segundo ouvi, para o sul das Minas Gerais. Foi em Arceburgo, sul de Minas, que Nídia Anacleto, a baiana, conheceu Hugo Pessuti, o mineiro. São os falecidos pais de meu avô. E segundo meu avô, Arceburgo tem por peculiaridade nunca mudar o seu número de habitantes - toda vez que nasce uma criança, foge um rapaz.

O resultado de tão antigas combinações é este que vos escreve. Com sangue italiano, francês, espanhol, português, brasileiro e baiano, quiçá indígena, filho dos bairros operários da Mooca e Brás e dos subúrbios provincianos da Vila Prudente, lugar onde os filhos e netos de todos aqueles ilustres personagens (pelo menos para mim) conheceram-se e procriaram-se.

Eu.









domingo, 16 de março de 2008

Situação

Quando o salário é mal, o amor é escasso e o encalhe um fato, resta a consolação da arte.
A paixão mais duradoura e sincera.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lar

Há muito saí de meu berço de velhos tijolos
Terra Mater de minha existência conceitual
O maior celeiro de índios da extinta Vera Cruz
Por tempos, nação das muralhas de operários e seca fumaça
A paradoxal província dentro do centro
Meu velho lugar, zê-éle, Formosa é a vila
Saudosa maloca
Ainda vive sem mim, Mooca
E nesse reclamar insistente,
Ainda vive também, ó Vila Prudente
Como se tivesse enterrado um tesouro de piratas
Desde que as deixei, estão ainda iguais;

Em exílio, aprendi e apreendi de fato o mundo
E dele comecei a fazer parte
As longitudes e latitudes da minha mente aumentaram
Virei homem, sujeito-homem, H.Aço
Cabra-homem, bicho grilo, bicho solto
Hoje sou diferente
Portanto,
Homem sensível coberto de sedimentos do mundo
Que ventou em mim, na primeira vez que encontrei-o
Na primeira vez que me vi sem lugar
Sem identidade geográfica
Perdido, órfão de meu universo pessoal
Mas, renovar é preciso

E, sabe o exilado que depois de muito tempo volta ao seu país,
e sente que não mais pertence àquele lugar?
Pois é.



segunda-feira, 3 de março de 2008

O que acontece em Gaza?




http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Parabolicamará




Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande

Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
Antes longe era distante
Perto, só quando dava
Quando muito, ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes, dentro de casa, camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva o tempo de um raio
Tempo que levava Rosa

Pra aprumar o balaio

Quando sentia que o balaio ia escorregar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
Esse tempo nunca passa
Não é de ontem nem de hoje
Mora no som da cabaça

Nem tá preso nem foge
No instante que tange o berimbau, meu camará
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará
De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma encarnação
De avião, o tempo de uma saudade
Esse tempo não tem rédea
Vem nas asas do vento
O momento da tragédia, Chico, Ferreira e Bento
Só souberam na hora do destino apresentar
Ê, volta do mundo, camará
Ê, mundo dá volta, camará

"O refrão "Ê, volta do mundo, camará", eu sampleei também de um verso muito comum em qualquer roda de capoeira. É uma maneira de cantar a vastidão do mundo, que também carrega a certeza de que o mundo vai e volta, e que na próxima volta – na volta também coreografada pela dança-luta – quem hoje perde pode se tornar o vencedor. Tudo muda, o tempo todo. E só quem sabe entender a mudança pode conquistar a vitória, ou melhor, vitórias, sempre parciais."

E pra quem quiser escutar, tá aí. É só baixar:

Gilberto Gil - Parabolicamará

http://www.zshare.net/download/8414909976a43d/