segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Baião, Xote, Amor

Primeiro vem um pouco de baião. Os dois corpos apaixonados suam, se divertem, ensaiam passos, desejam-se no fundo descalços. A noite é mágica, escura, acentuada de mistérios inocentes e meias-luzes, as paredes carregam energia dos dançarinos, a cerveja a hora do descanso, da conversa, da amizade, do amor, do riso sem motivo, os assuntos os mais variados possíveis, os dois interessam-se por qualquer palavra expressa entre eles.
A noite é finita, mas em verdade poderia não qualquer noite, mas esta em especial nunca acabar, fazer-se travessa frente ao dia, bater no peito e dizer: "A Lua veio e quer ficar!". Astro dos poetas e dos enamorados, Lua dos sertões, das zabumbas, da mínima distância entre dois corpos, do suor misturado e compartilhado, Lua, dos vestidos que a fazem linda, radiante, como se o dia não precisasse mesmo chegar, afinal, ela dançando o forró junto do amor é o próprio dia, então a Lua há de ficar satisfeita, astro nosso, Lua crescente, abrindo um clarão no meio da noite só para simplesmente dizer que o Universo inteiro sorri para o casal dançante, para iluminar e faiscar de fachos o triângulo nas mãos do músico, para a zabumba marcar passos, ritmos, instrumento metafórico das batidas fortes dos dois corações, para a sanfona ecoar letras e juras de amor, para mandar a saudade pra lá, ó, bem longe, longe da vista da Lua, das estrelas, da noite maravilhosa, para os amantes de toda uma vida continuarem olhando firme olhos a olhos e pisarem, distraídos, nas estrelas gravadas no chão por um telhado furado qualquer. A resposta para uma noite finita é um amor infinito, uma dança dos corações felizmente interminável, para um xote economizar falas dos dois apaixonados e dizer um a outro o quanto a chama é forte, intensa, viva, brindes de copos tilintando e simbolizando o quanto o amor é maior que qualquer distância deste Universo e de outros, se existirem. O forró dançado bem juntinho justamente para ilustrar isso.