Moisés tinha vinte anos feitos e cravados e morava no Campo Limpo, próximo ao Inocoop. Conseguira há pouco um trampo com que se sustentar, embora ainda vivesse com sua mãe e os três irmãos mais novos. Era pelo menos o suficiente para que pudesse se distrair um pouco e comprar alguma coisinha, alguma roupa, qualquer coisa. Era esforçado e justo, mas assistindo à TV e observando banners e outdoors mundo afora, considerou que era feio. Essa conclusão foi acrescida com um comentário que ouviu de colegas no trampo um dia desses, quando um deles pensou em convidar Moisés para fazer qualquer rolê na Vila Olímpia, de repente engatar uma balada. O outro rebateu a proposta afirmando: "Não, meu, melhor não, aquele Moisés vai queimar o nosso filme. Sei lá, ele é aquele tipo neto de nordestino que as mina dá risada da cara! Nada contra, mas ele é meio zoado." Eles nem perceberam que Moisés estava ligeiramente próximo e ouviu tudo, fio da meada por fio da meada.
Pegava sempre o mesmo busão quando voltava pra casa, às seis da tarde já batia uma saudade da mãe e da comida que ela fazia. Quando subia no busão, ainda estava vazio e podia sentar-se. Quando descia, quase no ponto final, parecia uma grande lata levando gado. Mas sempre sentava-se. E ficava quieto todo o itinerário, observando o mundo que o rotulava como "queimador de filme".
Um dia entrou uma menina no busão. E sentou-se no banco à frente de Moisés. Tinha o cabelo meio aloirado e bem liso e não fitava ninguém no busão. Mas despertava a atenção geral, inclusive das mulheres. Moisés parou um pouco de observar o mundo e começou a imaginar coisas com aquela menina. Coisas boas, ressalte-se aqui. Moisés nunca havia namorado. Sentia falta de alguém. Tinha família, amigos, era até bem suprido nesses sentidos. Mas seu coração jovem pedia um pouco de um amor diferente.
Continua...
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2 comentários:
Ressalto aqui que queimar o filme possa ser apenas a maneira de comportamento e ideologias do que a não admiração de uma carcaça que segue e dura o tempo necessário por aqui...queimar o filme é trocar um prato de comida por uma dose de cachaça, mesmo que a segunda seja mais barata que a primeira...queimar o filme é deitar e deixar a vontade de mudar algo construtivo passar...queimar o filme é se deixar levar por pensamentos obsoletos de enormes futilidades desperdiçados em uma mesa de bar...queimar o filme é insistir nesses pensamentos anteriormente citados prestando atenção em pessoas que se encontram nesse mesmo bar tomando uma cerveja e falando de coisas inteligentes e acrescentadoras que apenas preferiram um lugar bacana pra compartilhar e concretizar idéias...queimar o filme é acreditar q seu filme está queimado sem ter tempo de pensar que esse mesmo filme é reconstituído em sua película por pensamentos e idéias postas em prática...queimar o filme é preferir baladas apertadas onde nem se é notado a longas conversas agradáveis envoltas de livros e poesias...queimar o filme é achar q sabe mais q uma pessoa a qual se tem certeza q sabe mais d vc, mas como vc ainda insiste em se situar em um mundo medíocre fecha as portas-olhos pra não ver realmente a realidade...queimar o filme é amar e esconder tal sentimento...queimar o filme é sentir vergonha de dançar quando seus pés não querem ficar parados...queimar o filme é não viver e sim apenas existir...ainda prefiro o sorriso sincero da criança que repouso sobre o colo da mãe...
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