quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O amor (surge) no ônibus 2 (segunda parte)

No dia seguinte, Moisés conseguiu pegar o busão no mesmo horário e, como no dia anterior, a menina aloirada apareceu. Já nesta altura, o único banco vago do ônibus era bem o da frente de Moisés, o qual foi ocupado pela menina, assim também como no dia anterior. Desta vez ela tinha os cabelos soltos, radiantes na visão de Moisés, e neste momento, ele pensou em acariciá-los, fazer aquele cafuné gostoso que só a sua falecida avó fazia nele; mas pensou também numa possível reação da menina, e desistiu. Fantasiou a viagem inteira e tremeu, pensando ou não em tocar aqueles cabelos de um loiro bem sutil. Ficou só no plano do pensamento. Ela desceu e logo mais ele próprio também desceu, desgostoso com o destino. Isso foi em uma sexta-feira.
Na segunda, novamente o trabalho, novamente o cansaço e novamente o mesmo busão, com o mesmo motorista. O cobrador tinha mudado, parece que o anterior havia sido demitido por flertar com uma idéia de greve, algo assim. Moisés sentou no mesmo lugar imaginando que as cenas de dias passados se repetissem, mas enganou-se, porque logo mais a frente um busão da mesma linha estava quebrado, e todo o pessoal dele entrou no que vinha. Conclusão: de quase vazio que estava, logo o ônibus lotou-se e Moisés cedeu seu lugar a uma senhora de mais idade, que carregava um sacolão cheio de bugigangas. Dois pontos à frente, as expectativa de Moisés aumentaram e com razão, porque a menina loira estava no ponto. Moisés só ficou com a cara no chão quando viu que ela não entraria neste ônibus, uma vez que as pessoas estavam espremidas ao extremo. Intuiu que ela esperaria o próximo. Não! Moisés faria alguma coisa e deu o sinal para descer. O pessoal ficou puto, porque ele saiu de forma a empurrar todo mundo. Xingado por trás, Moisés desceu do busão e deu-se conta que deu bem de cara com a menina loira, perdendo-se nos seus olhos mel-esverdeados.

A vida tem coisas interessantes e inexplicáveis. Assim pareceu a Moisés neste momento, porque a menina não desviou os olhos, nem ao menos o ignorou. Fitou-o longamente, e neste momento Moisés era o mais belo ser do mundo, porque seus olhos deram vazão a uma vontade insuperável: a vontade de amar e ser amado.

Um busão de outra linha parou no ponto e, sem mais nem menos, a menina subiu nele. Parecia que aquele busão também servia à ela, mas não a Moisés. Esse foi o pensamento dele. Não existia necessidade alguma de Moisés pegar este ônibus, então encarou o ônibus que se ia com olhos de órfão.

Moisés nunca mais cruzou com aquela menina, seja no busão, seja na rua, o que lhe rendeu certa dor. Mas ao mesmo tempo, Moisés vislumbrava com mais esperança o mundo, porque certamente a achou nos olhos mel-esverdeados daquela menina, quando olharam-se um ao outro no fundo de suas almas.

Nenhum comentário: