quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Mais uma noite paulistana, mais uma noite de quarta-feira. É a imersão cotidiana: a quarta-feira, na exata metade da semana, muito embora nem por isso seja ela equilibrada. Os ânimos se acirram, os amores fervilham, os homens e mulheres comuns pegam seus metrôs e ônibus e desejam nada mais nada menos, que vislumbrar o portão tão esperado do lar. A noite é fria, garoenta e paulistana, e os habitantes do Leste Velho seguem rumo ao pretenso aconchego, aos esposos e esposas, namorados e namoradas, mães, pais, amigos, enfim, aonde sintam-se confortáveis de companhia. Desconfio que seja este o motivo pela qual todos entreolham-se no ônibus acuados e desconfiados, outros são mais imponentes e encaram sem temor; alguns simplesmente escondem-se no seu pensamento. Porque o pensamento é o melhor esconderijo do mundo lá fora.
Um samba toca e fala de amor; de briga, de grosseria, de coração partido, entristecido. O último ônibus passa pela praça. O sino da velha igreja toca. Lá fora o frio que parte rumo a outro lugar. Portas de correr fechadas e pichadas. No ônibus um casal briga, ele fitando-a com olhos de ira, ela esquivando-se e rindo, como se o outro disesse uma besteira enorme. Pessoas olham mas não se metem; em mulher e relação dos outros não se mete o bico. Mendigos acendem com custo uma fogueira por debaixo do viaduto. Policiais dormem sem o menor rodeio no plantão. Loucos a vagar pelas ruas mal-iluminadas. Amores perdidos. Trajetos há muito conhecidos. Ar de decadência no ar gelado. Noite. Assombrações a tirar sarro de quem a teme. Vendo e compro jóias. Amarração para o amor. Punks atiram garrafas vazias contra o cemitério. Buracos no asfalto. Nada de flores. Damas-da-noite a perfumar o fim de mais um dia. O casal agora democratiza sorrisos; não mais brigam. Um beijo estalado no ar. O samba agora fala de reconciliação, perdão, sexo disfarçado em poesia. Vira-latas. O apito de um trem de carga, abafado pela distância. Os sonhos se regeneram. Amanhã é quinta, dia de mais amor e labuta.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Isso é extraordinário.
Depois de um ano e vinte e quatro dias, volto a marcar território por aqui, como um cachorro vadio que foge e um dia volta a seu dono. Muitas coisas ocorreram no mundo (e no meu mundo) nesse meio tempo, mas o que importa é o hoje pra frente. Obviamente, o homem que não conhece sua própria história carece de recursos para construir o seu futuro, mas prefiro nem comentar alguns dos fatos ocorridos nesse mais de um ano distante. Prefiro também não rotular o blogue de alguma maneira nova, mas que continue assim, numa balança entre poesia e mundano, erudito e profano.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Breakestra - Hit The Floor
Este pessoal de Los Angeles toca um Funk bem pesado com batidas bem próximas da velhíssima escola do Hip-Hop. Recomendo pra quem gosta e quem não gosta de Funk (o bom e velho).
Baixe aqui:
Breakestra (Hit The Floor) - Rapidshare
Naná Vasconcelos - Minha Lôa
"O samba é canção de guerra,
não foi feito só pra brincar
Pra ser feliz,
Inda não dá
enquanto um negro,
um só negro só,
Chorar (...)"
Voz Nagô
O maior achado dos últimos tempos para mim é Naná Vasconcelos. Em seu repertório pode-se achar um pouco de forró, maracatu (rural e de baque virado), côco, ciranda, samba, choro e uma pitada de música eletrônica, que não compromete em nada qualquer sonoridade orgânica. E ainda é o maior tocador de berimbau de Pernambuco, quiçá do Nordeste, transcedendo sua sonoridade.
não foi feito só pra brincar
Pra ser feliz,
Inda não dá
enquanto um negro,
um só negro só,
Chorar (...)"
Voz Nagô
O maior achado dos últimos tempos para mim é Naná Vasconcelos. Em seu repertório pode-se achar um pouco de forró, maracatu (rural e de baque virado), côco, ciranda, samba, choro e uma pitada de música eletrônica, que não compromete em nada qualquer sonoridade orgânica. E ainda é o maior tocador de berimbau de Pernambuco, quiçá do Nordeste, transcedendo sua sonoridade.
Para quem quiser baixar, aqui está:
Naná Vasconcelos (Minha Lôa) - Rapidshare
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Baião, Xote, Amor
Primeiro vem um pouco de baião. Os dois corpos apaixonados suam, se divertem, ensaiam passos, desejam-se no fundo descalços. A noite é mágica, escura, acentuada de mistérios inocentes e meias-luzes, as paredes carregam energia dos dançarinos, a cerveja a hora do descanso, da conversa, da amizade, do amor, do riso sem motivo, os assuntos os mais variados possíveis, os dois interessam-se por qualquer palavra expressa entre eles.
A noite é finita, mas em verdade poderia não qualquer noite, mas esta em especial nunca acabar, fazer-se travessa frente ao dia, bater no peito e dizer: "A Lua veio e quer ficar!". Astro dos poetas e dos enamorados, Lua dos sertões, das zabumbas, da mínima distância entre dois corpos, do suor misturado e compartilhado, Lua, dos vestidos que a fazem linda, radiante, como se o dia não precisasse mesmo chegar, afinal, ela dançando o forró junto do amor é o próprio dia, então a Lua há de ficar satisfeita, astro nosso, Lua crescente, abrindo um clarão no meio da noite só para simplesmente dizer que o Universo inteiro sorri para o casal dançante, para iluminar e faiscar de fachos o triângulo nas mãos do músico, para a zabumba marcar passos, ritmos, instrumento metafórico das batidas fortes dos dois corações, para a sanfona ecoar letras e juras de amor, para mandar a saudade pra lá, ó, bem longe, longe da vista da Lua, das estrelas, da noite maravilhosa, para os amantes de toda uma vida continuarem olhando firme olhos a olhos e pisarem, distraídos, nas estrelas gravadas no chão por um telhado furado qualquer. A resposta para uma noite finita é um amor infinito, uma dança dos corações felizmente interminável, para um xote economizar falas dos dois apaixonados e dizer um a outro o quanto a chama é forte, intensa, viva, brindes de copos tilintando e simbolizando o quanto o amor é maior que qualquer distância deste Universo e de outros, se existirem. O forró dançado bem juntinho justamente para ilustrar isso.
A noite é finita, mas em verdade poderia não qualquer noite, mas esta em especial nunca acabar, fazer-se travessa frente ao dia, bater no peito e dizer: "A Lua veio e quer ficar!". Astro dos poetas e dos enamorados, Lua dos sertões, das zabumbas, da mínima distância entre dois corpos, do suor misturado e compartilhado, Lua, dos vestidos que a fazem linda, radiante, como se o dia não precisasse mesmo chegar, afinal, ela dançando o forró junto do amor é o próprio dia, então a Lua há de ficar satisfeita, astro nosso, Lua crescente, abrindo um clarão no meio da noite só para simplesmente dizer que o Universo inteiro sorri para o casal dançante, para iluminar e faiscar de fachos o triângulo nas mãos do músico, para a zabumba marcar passos, ritmos, instrumento metafórico das batidas fortes dos dois corações, para a sanfona ecoar letras e juras de amor, para mandar a saudade pra lá, ó, bem longe, longe da vista da Lua, das estrelas, da noite maravilhosa, para os amantes de toda uma vida continuarem olhando firme olhos a olhos e pisarem, distraídos, nas estrelas gravadas no chão por um telhado furado qualquer. A resposta para uma noite finita é um amor infinito, uma dança dos corações felizmente interminável, para um xote economizar falas dos dois apaixonados e dizer um a outro o quanto a chama é forte, intensa, viva, brindes de copos tilintando e simbolizando o quanto o amor é maior que qualquer distância deste Universo e de outros, se existirem. O forró dançado bem juntinho justamente para ilustrar isso.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Trampos!
domingo, 27 de julho de 2008
Empinando sonhos
A pipa lá no alto tem um quê de sonho
Pois há uma tênue linha, de costura ou destino
Entre parar e marchar - à frente, ao céu.
Há também na pipa uma tal de saudade
Ela distante, sujeita a todo tipo de ventos e brisas
Ainda assim, há uma linha que nos une.
A pipa carrega também uma criança
Sem peso, interior, agora livre, agora risonha
Cores mil, pulula por vezes sem controle
Que saudade tenho da criança no meu sonho
Que sonho tem a criança na sua saudade!
Que criança não tem saudade num sonho?
E toda vez que a pipa empinar
A criança sonhadora saudade terá.
A diferença é que existe uma linha.
A puxar, a unir, a mandar a saudade pra lá, bem longe
No azul distante.
Diálogo
"Códigos do Caos" - Xilogravura - 2.006
"Exu Laroiê! Saravá Sua Banda!"
Tinta têmpera-guache s/ papel
paraná - 2.007
...........................................................................................................................
Pris:
Conrado!
És querido!!
Esta achei a cara da arte que faz..
Eu
Augusto dos Anjos
E o índio, adstrito à étnica escória, tendo o horror no rosto impresso,
recebeu o achincalhe do progresso,
anulando-o da crítica da História!
De repente, acordando da desgraça,
viu toda a podridão de tua raça na tumba de Iracema!...
Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone, exercia sobre ele ação funesta.
Desde o desbravamento da floresta
à ultrajante invenção do telefone!
Conrado:
Muito boa Pris...
Ainda que não só o indígena, mas também o negro e sua cultura...
Não nego a cultura do homem branco, tem sim muitos aspectos ricos. A questão é igualar a esta cultura também as culturas dos oprimidos de nossa nação...um resgate, uma apropriação de modo a valorizá-las...ainda que eu não faça questão de deixar isso aparente, porque muitas pessoas não gostam de tanto conceito sócio-político-cultural em cima de um trampo artístico...
Pris:
Isso é, mas sinceramente, quanto à cultura do homem branco não concordo muito, com relação ao Brasil, até porque a existência da história foi toda esculpida pelas mãos dos negros, sem luva..., tenho certeza que a conversa aqui seria infinita se prolongássemos o assunto.Quanto à arte, a cara mesmo Conrado, é provocar saca, porque ela não está 100% em olhar o que se é agradável, em minha opinião a expressão que você expõe, remete a muita coisa, pode não haver intenção, mas existe uma riqueza grandiosa ao olhar, talvez o ‘outro’ não o perceba, porque é preciso ter sensibilidade o bastante para enxergar isso. O importante é fazer o que realmente gosta, quando se pode fazer, independente do que pensam. Reponde-me uma questão se sentir à vontade é claro, que me deixou em dúvida, até porque prefiro saber a resposta antes de criar conceitos: Você se importa mesmo como as pessoas vêem sua arte e faz só o que agrada os olhos?/Sem culpas quanto à pergunta e o mesmo digo com a resposta.
Satisfações em compartilhar idéia
Conrado:
Pris...
Como artista que sou, não posso deixar de pensar o lado estético da obra, pensar sobre sua composição, sobre seus elementos plásticos, et cetera..
Mas a tendência é a seguinte: artista não pode encher uma obra com cargas conceituais muito grandes...penso que isso a limitaria...
Minha ideologia ninguém tira de mim, mas nem sempre é bom sobrecarregar a arte com tais motivos...se eu seguisse 100% de minha ideologia na arte, eu seguiria uma escola do tipo Realismo Socialista...mas sem dúvida concordo que a arte deve provocar, deve ser crítica, não deve ter como parâmetro a própria arte.......isso seria o suicídio da arte e também o seu afastamento da vida. Portanto, penso que a arte pode e deve ser crítica, mas nem toda obra que um artista produz, sob a pena de tornar-se panfletária...
É preciso criticar sim, mas com inteligência...ainda assim, te mando no scrap um exemplo bem concreto de arte com caráter mais panfletário...que eu fiz..
Bjão..!
"Alvorecer da Revolução" - Plasticogravura - 2.006
sábado, 5 de julho de 2008
Meu Melhor Samba
Às vezes me afogo nestes loiros cabelos
Louros de vitória que me levam a segredos
Doce semblante, num instante
Percebi
Que sou doce viajante,
Agora não-pensante
Quando miro olhares
A ti
Minha arte surge do centro
da cidade, São João e Ipiranga
Minha arte surge do medo da altura
Da vertigem e da tontura
Que causas não o edifício a tu
Mas tu a mim
Percebeste?
Fim de semana no parque,
intervenção urbana à tarde,
samba que o coração arde,
professora que me ensina toda a arte
Arte de amar
Sem este samba a todos generalizar
digo que já possui um destino
O meu fabuloso destino,
Aquele em cujos loiros cabelos
Costumo me afogar
Não ligo para aqueles apelos
que dizem para parar
para mim,
mais ninguém existirá
neste mundo inteiro
para amar
Só a ti, meu melhor samba
Dediquei.
Louros de vitória que me levam a segredos
Doce semblante, num instante
Percebi
Que sou doce viajante,
Agora não-pensante
Quando miro olhares
A ti
Minha arte surge do centro
da cidade, São João e Ipiranga
Minha arte surge do medo da altura
Da vertigem e da tontura
Que causas não o edifício a tu
Mas tu a mim
Percebeste?
Fim de semana no parque,
intervenção urbana à tarde,
samba que o coração arde,
professora que me ensina toda a arte
Arte de amar
Sem este samba a todos generalizar
digo que já possui um destino
O meu fabuloso destino,
Aquele em cujos loiros cabelos
Costumo me afogar
Não ligo para aqueles apelos
que dizem para parar
para mim,
mais ninguém existirá
neste mundo inteiro
para amar
Só a ti, meu melhor samba
Dediquei.
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